O Deus das formigas

Uma lembrança totalmente insignificante na vida daquele grande homem. Aliás, insignificante que ele sequer lembra. No entanto, numa tarde da infância, aos 09 de idade, ele brincava de ser Deus. Com uma lâmpada cheia d'água, ele queimava as formigas na calçada. A lâmpada recebia os raios do sol que, focalizados através do vidro, se tornavam mortais para os bichinhos. "Eu sou Deus, sintam a minha ira", ele dizia. De vez em quando, o Deus das formigas cansava da lente e interagia: delicadamente recolhia alguma formiguinha e fazia suas experiências. Primeiro, retirava uma por uma das patas e, por fim, as anteninhas. Assim, se punha a observar o sofrimento das formigas. Quando cansava de brincar de Deus, ele ia tomar nescau e comer bolachas.

O tempo passa. Hoje, aquele homem não mais desmembra formigas. Mas brincar de Deus foi um hábito que ele não conseguiu abandonar. Hoje, ele interage com as pessoas. Rouba. Engana. Mata. Trai. Atropela. Queima. Destrói. Corrompe. Desrespeita. Deseduca. Trafica. E ele seguia sendo feliz em sua infelicidade. Até que num belo dia, lá estava ele caminhando pela calçada. O sol forte sob sua cabeça o fazia suar. Suava demasiadamente, a ponto de sentir uma leve dor de cabeça. "Que cheiro de queimado",ele se queixou. Em seguida, estupefato, percebeu que seus cabelos estavam em chamas.

Nem bem deu tempo de se desesperar e, trash, viu o seu braço esquerdo ser arrancado do corpo misteriosamente. O sangue jorrava e ele gritava. Em seguida, teve seu braço direito decepado. O mesmo veio a acontecer com a perna direita, arrancada por alguma força invisível. E seu tronco estava ali, mergulhado numa poça de sangue. Em seu desespero, olhou para cima e enxergou uma formiga gigantesca, que vinha lhe arrancar a perna esquerda. E arrancou tudo. Só faltou as anteninhas.

Márcio Brasil
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Santiago, RS



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